28 de nov de 2024
Seguindo seu compromisso com a cultura, o Made in Ceará traz abaixo um texto sobre o show de Maria Bethânia e Caetano Veloso, que aconteceu na Arena Castelão, em Fortaleza, no dia 16 de novembro. A autora é a jornalista Lianne Ceará.
Uma festa, uma noite assim como esta
Se tem uma coisa que eu adoro, essa coisa é ser fã. Minha diva pop é Maria Bethânia, Por isso, no último dia 16, data do show da tour Caetano e Bethânia aqui em Fortaleza, coloquei meu espírito adolescente para render e vivi absolutamente tudo que ser fã desses dois podia me proporcionar. Com direito à blusa personalizada, correr para pegar a grade, chorar muito, dor nas pernas, dor de cabeça, mas esquecer tudo isso na hora que eles entrassem no palco. Duas horas antes do show começar, eu já estava grudada na grade e chorando com a voz de Gal cantando “O Amor” no som ambiente do Castelão. E se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria.
Os sempre e mais Doces Bárbaros. Fiquei pensando um bocado na importância e na contribuição desses dois – que serão sempre quatro na minha cabeça – para a nossa cultura, para a nossa contracultura, para o Brasil que temos hoje. Respirei aliviada várias vezes por poder viver aquilo, pelos nossos ídolos ainda serem os mesmos – mas também refletia silenciosa sobre os próximos.
Apesar de serem irmãos, Caetano e Bethânia têm carreiras solos gigantes e belíssimas. A última vez que os dois tinham se apresentado juntos para tanto público assim foi lá em 1978, ou seja, deu tempo para que algumas gerações não soubessem que eles saíram do mesmo útero, de dona Canô.
O mais bonito foi ver no show aquilo que “esteve oculto mesmo quando era o óbvio”: as obras deles também são irmãs. Se completam, se abraçam, se misturam e formam uma harmonia perfeita. Ver e ouvir Bethânia cantando Caetano e Caetano cantando Bethânia foi lindo. A irmandade dos dois em cena agiganta tudo, melhora tudo. Caetano parecia um menino vendo sua musa quando Bethânia cantava.
Não sei se quem nunca foi a um show de Bethânia entende, mas ela é como uma entidade no palco. Em discurso durante a cerimônia do título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará (UFC), ela disse: “não importa onde, é sempre o palco que me conduz, este lugar sagrado, lugar de festa, onde a menina de Santo Amaro fincou seus pés”, e é isto. Ela finca e é fincada pelo palco.
Bethânia tem um dom absoluto e incrédulo de captar o público. É surreal. Eu e mais uma multidão só tínhamos olhos para ela. Mas até Caetano parece compreender (e muito bem) a grandiosidade da irmã.
Apesar de tantos anos sem Doces Bárbaros, sem Gal e Caetano, sem Gal e Bethânia, a falta da parte que falta doeu na minha espinha. Dor física mesmo. Os telões lembraram o tempo todo a beleza e a grandiosidade de Gal, que sempre vai ser imensa, mas perto deles se tornava gigante, como nas fotos. Quase como uma súplica, Caetano improvisava e pedia ao som de “Baby”: “please stay with me, baiana”.
Caetano, Bethânia, obrigada pela festa, uma noite assim como esta: para nunca mais esquecer, para dançar até o mundo ficar joia rara, qualquer coisa que se sonhara.
Lianne Ceará é jornalista e escritora. Autora do livro Memórias Interrompidas: testemunhos do sertão que virou mar (2021). Já contribuiu com veículos como Revista Piauí, G1 Ceará, Diário do Nordeste, Uol e Brasil de Fato.